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Cuiabá, 17 de Fevereiro de 2025

Justiça Estadual Terça-feira, 05 de Março de 2024, 13:30 - A | A

Terça-feira, 05 de Março de 2024, 13h:30 - A | A

RELATÓRIO DA DECCOR

MP: Ex-assessor "previu” operações e tinha informante na PF

Conversas encontradas no aparelho celular de Gilmar Cardoso dão a crer que ele tinha informações privilegiadas sobre as investigações sobre os supostos esquemas de desvios

Lucielly Melo

Tido como operador de supostos esquemas de corrupção ao lado do prefeito Emanuel Pinheiro, o ex-assessor-executivo Gilmar de Souza Cardoso “previa” as operações policiais, datas e até os alvos.

Ao requerer a imposição de medidas cautelares diversas da prisão contra o gestor e o “braço direito” dele, o promotor de Justiça Carlos Roberto Zarour César destacou o relatório produzido pelo Núcleo de Inteligência da Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor), que identificou diversas conversas no celular de Gilmar, onde ele indica que tem até informante dentro da Polícia Federal.

Em um dos diálogos encontrados, Gilmar conversa com a servidora Mhayanne Escobar Bueno Beltrão Cabral sobre a contratação fraudulenta de empresas e tenta a convencer a não entregar à PF as práticas criminosas. Ele até indica que datas de uma possível operação e que “mexeu uns pauzinhos” e “segurou” a ação policial, mas afirmou que a investigação seria deflagrada. O que, de fato, ocorreu. A “Hypnos” foi desencadeada em fevereiro de 2023, mas pela Polícia Civil, com os alvos que haviam sido sugeridos por Gilmar: Nadir Ferreira Soares Camargo da Silva e Eduardo Pereira Vasconcelos.

“Fato é que Gilmar possui contatos dentro da polícia que o deixam a par de todas as possíveis operações, datas e seus alvos!”, pontuou o promotor.

Ainda numa conversa com Mhayanne, que esteve na mira da Operação Cartão-Postal, Gilmar afirmou que “mas deixa eu te falar pra você... você sabe aonde... aonde que você vai ficar isenta disso ai? Porque a polícia já sabe o que é, e o que não é!... Eu tive lá porque MEU PRIMO É POLICIAL FEDERAL, chama... eles pegaram o lastro de todo mundo, já fizeram o lastro de todo mundo, quem pegou dinheiro, quem que não pegou, aquela empresa...”.

Para o promotor, ficou claro que Gilmar, tinha a função também de vigiar seus próprios chefes para garantir que não iriam delatar as ilegalidades às autoridades públicas. Em outro momento, por exemplo, ele falava com a ex-secretária municipal de Saúde, Suelen Alliend (já falecida), que o ex-secretário Milton Corrêa da Costa Neto seria alvo de uma operação da PF. A “previsão” se concretizou com a “Curare”, deflagrada em abril de 2023.

“Há, portanto, alta probabilidade de GILMAR possuir informantes dentro do aparato policial”, concluiu o promotor.

Desta forma, o desembargador Luiz Ferreira da Silva, do TJMT, impôs a Gilmar cautelares de proibição de manter contato com servidores e agentes políticos, bem como dos demais investigados e pessoas envolvidas; não poderá acessar as dependências da Prefeitura de Cuiabá; não poderá viajar sem autorização judicial; e está proibido de exercer cargo público.

“Por outra vertente, mas não menos grave do que as próprias condutas, em tese, criminosas perpetradas pelo grupo, é a comprovação nos diálogos encontradiços no aparelho telefônico de Gilmar Cardoso demonstrando que este tinha informações privilegiadas dos passos investigativos realizados pela Polícia Judiciária Civil e “anteviu” a realização da “Operação Curare” deflagrada em 20.04.2023, na qual o principal alvo foi Milton Corrêa da Costa, ex-Secretário Adjunto do Prefeito Emanuel Pinheiro, tendo sido identificado que a empresa Vip Prestação de Serviços Médicos Ltda., uma das investigadas, teria sacado em espécie a importância de R$ 2.100.000,00 (dois milhões e cem mil reais) e repassado a Milton que é médico e dono da empresa Family Medicina e Saúde Ltda., cumprindo asseverar que a Vip Prestação de Serviços acima referida havia recebido do Município de Cuiabá a importância de R$ 25.891.273,40 (vinte e cinco milhões, oitocentos e noventa e um mil, duzentos e setenta e três reais e quarenta centavos), e, quando do cumprimento do mandado de prisão e busca e apreensão, o seu sócio Douglas Castro quebrou o seu aparelho celular, o que foi identificado por intermédio das imagens do circuito interno de segurança”, destacou o desembargador na decisão.