Tido como operador de supostos esquemas de corrupção ao lado do prefeito Emanuel Pinheiro, o ex-assessor-executivo Gilmar de Souza Cardoso “previa” as operações policiais, datas e até os alvos.
Ao requerer a imposição de medidas cautelares diversas da prisão contra o gestor e o “braço direito” dele, o promotor de Justiça Carlos Roberto Zarour César destacou o relatório produzido pelo Núcleo de Inteligência da Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor), que identificou diversas conversas no celular de Gilmar, onde ele indica que tem até informante dentro da Polícia Federal.
Em um dos diálogos encontrados, Gilmar conversa com a servidora Mhayanne Escobar Bueno Beltrão Cabral sobre a contratação fraudulenta de empresas e tenta a convencer a não entregar à PF as práticas criminosas. Ele até indica que datas de uma possível operação e que “mexeu uns pauzinhos” e “segurou” a ação policial, mas afirmou que a investigação seria deflagrada. O que, de fato, ocorreu. A “Hypnos” foi desencadeada em fevereiro de 2023, mas pela Polícia Civil, com os alvos que haviam sido sugeridos por Gilmar: Nadir Ferreira Soares Camargo da Silva e Eduardo Pereira Vasconcelos.
“Fato é que Gilmar possui contatos dentro da polícia que o deixam a par de todas as possíveis operações, datas e seus alvos!”, pontuou o promotor.
Ainda numa conversa com Mhayanne, que esteve na mira da Operação Cartão-Postal, Gilmar afirmou que “mas deixa eu te falar pra você... você sabe aonde... aonde que você vai ficar isenta disso ai? Porque a polícia já sabe o que é, e o que não é!... Eu tive lá porque MEU PRIMO É POLICIAL FEDERAL, chama... eles pegaram o lastro de todo mundo, já fizeram o lastro de todo mundo, quem pegou dinheiro, quem que não pegou, aquela empresa...”.
Para o promotor, ficou claro que Gilmar, tinha a função também de vigiar seus próprios chefes para garantir que não iriam delatar as ilegalidades às autoridades públicas. Em outro momento, por exemplo, ele falava com a ex-secretária municipal de Saúde, Suelen Alliend (já falecida), que o ex-secretário Milton Corrêa da Costa Neto seria alvo de uma operação da PF. A “previsão” se concretizou com a “Curare”, deflagrada em abril de 2023.
“Há, portanto, alta probabilidade de GILMAR possuir informantes dentro do aparato policial”, concluiu o promotor.
Desta forma, o desembargador Luiz Ferreira da Silva, do TJMT, impôs a Gilmar cautelares de proibição de manter contato com servidores e agentes políticos, bem como dos demais investigados e pessoas envolvidas; não poderá acessar as dependências da Prefeitura de Cuiabá; não poderá viajar sem autorização judicial; e está proibido de exercer cargo público.
“Por outra vertente, mas não menos grave do que as próprias condutas, em tese, criminosas perpetradas pelo grupo, é a comprovação nos diálogos encontradiços no aparelho telefônico de Gilmar Cardoso demonstrando que este tinha informações privilegiadas dos passos investigativos realizados pela Polícia Judiciária Civil e “anteviu” a realização da “Operação Curare” deflagrada em 20.04.2023, na qual o principal alvo foi Milton Corrêa da Costa, ex-Secretário Adjunto do Prefeito Emanuel Pinheiro, tendo sido identificado que a empresa Vip Prestação de Serviços Médicos Ltda., uma das investigadas, teria sacado em espécie a importância de R$ 2.100.000,00 (dois milhões e cem mil reais) e repassado a Milton que é médico e dono da empresa Family Medicina e Saúde Ltda., cumprindo asseverar que a Vip Prestação de Serviços acima referida havia recebido do Município de Cuiabá a importância de R$ 25.891.273,40 (vinte e cinco milhões, oitocentos e noventa e um mil, duzentos e setenta e três reais e quarenta centavos), e, quando do cumprimento do mandado de prisão e busca e apreensão, o seu sócio Douglas Castro quebrou o seu aparelho celular, o que foi identificado por intermédio das imagens do circuito interno de segurança”, destacou o desembargador na decisão.