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Cuiabá, 18 de Julho de 2025

Justiça Estadual Sábado, 30 de Setembro de 2017, 14:00 - A | A

Sábado, 30 de Setembro de 2017, 14h:00 - A | A

Alvos da operação Ararath

Silval e construtora simularam compra de terreno para esconder pagamento ilícito

As notas promissórias do pagamento foram apreendidas durante busca e apreensão, em novembro de 2013

Lucielly Melo

O dono da Guaxe-Encomind, Márcio Aguiar, liquidou uma dívida de R$ 6 milhões que o ex-governador Silval Barbosa tinha junto ao empresário Valdir Piran. As notas promissórias do pagamento foram apreendidas no cofre da empresa durante busca e apreensão da Operação Ararath, em novembro de 2013

A informação consta na delação do ex-governador, que revelou que após a operação, Silval se reuniu com Aguiar para criarem um compromisso de compra e venda de uma área que pertencia ao empresário para o delator, a fim de justificar as notas apreendidas.

Em um dos depoimentos prestado junto ao Ministério Público Federal (MPF), Silval contou que tinha acordado com Piran para pagamento de uma dívida de R$ 30 milhões, parcelada em 15 vezes de R$ 2 milhões.

Segundo o ex-governador, o empresário tinha ciência de que o pagamento seria quitado por meio de desvios de recursos públicos.

Desta forma, Silval assinou 15 notas promissórias, todas no valor de R$ 2 milhões cada, emitidas em novembro de 2012. As notas também foram assinadas por José Riva, que na época era presidente da Assembleia Legislativa.

“Que o Declarante esclarece que José Riva, na época dos fatos presidente da Assembleia Legislativa Do Estado De Mato Grosso, também assinou as notas promissórias como avalista; QUE acertada a forma de pagamento com Valdir Piran, o Declarante começou a pagar mensalmente o montante de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), motivo pelo qual com o pagamento dos valores, as notas promissórias dadas como garantia eram retiradas com Valdir Piran, sendo que tais retiradas foram executadas por Pedro Nadaf (Secretário da Casa Civil) e o próprio Declarante”, confessou o ex-gestor. 

Que a assunção da dívida por Marcio Aguiar nada mais foi do que a antecipação dos "retornos" que deveriam ser pagos daquela data em diante em relação aos contratos em andamento com o Estado

Com o tempo, Silval acabou não conseguindo manter o pagamento em "dias" e, com o atraso, Valdir Piran “começou a exercer muita pressão”, momento que o colaborador procurou Mácrio Aguiar para que quitasse três parcelas.

Na ocasião, o ex-governador esclareceu ao dono da Guaxe-Encomind que a empresa tinha várias obras em andamento no Estado e que precisaria da ajuda.

“(...) o empresário Marcio Aguiar já ‘ajudava’ o Declarante a cada medição realizada decorrente dos contratos firmados entre Guaxe-Encomind e o Estado de MT; Que o Declarante alegava a Marcio Aguiar que tinha restos de campanha a pagar, foi quando o Declarante propôs a Marcio Aguiar que assumisse a dívida de R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais) perante Valdir Piran, substituindo essa dívida pelos "retornos" em relação às obras em andamento; Que o Declarante ofereceu a Marcio Aguiar, inclusive, a possibilidade de aditamento do valor nos contratos em andamento; Que a assunção da dívida por Marcio Aguiar nada mais foi do que a antecipação dos "retornos" que deveriam ser pagos daquela data em diante em relação aos contratos em andamento com o Estado”, diz outro trecho do depoimento.

“Que Marcio Aguiar, após relutar no início, assumiu e quitou as 3 (três) parcelas com Valdir Piran; Que O próprio Marcio Aguiar foi quem efetuou os pagamentos diretamente para Valdir Piran, sendo essas notas promissórias apreendidas no cofre da empresa Guaxe-Encomind na busca e apreensão efetuada em uma das fases da ‘Operação Ararath’; Que após a apreensão dessas notas promissórias pela Polícia Federal, o declarante se reuniu com Marcio, sendo que nessa conversa resolveram criar um compromisso de compra e venda de uma área que pertencia a ele (Marcio) para o Declarante”.

De acordo com o ex-governador, a simulação da compra e venda, foi inclusive, declarada no imposto de renda, e posteriormente foi feio o destrato. Ele ainda destacou que o contrato era referente a uma área localizada no município de Salto do Céu, “pois foi confeccionado para dar aparência de legalidade para as notas promissórias apreendidas pela Polícia Federal”.

Além dos fatos expostos, Silval evidenciou que Márcio sempre o auxiliava nos pagamentos de campanhas eleitorais.