Lucielly Melo
A juíza 1ª Vara Especializada em Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Cuiabá, Ana Graziela Vaz de Campos, pronunciou o empresário Carlos Alberto Gomes Bezerra, que vai ser julgado pelo júri popular pela morte da servidora do Judiciário, Thays Machado, e do namorado dela, Willian Cesar Moreno.
A decisão, dada nesta quarta-feira (4), ainda manteve a prisão preventiva do réu.
A magistrada, ao acolher a denúncia do Ministério Público do Estado (MPE), afirmou que o conjunto de provas demonstra, de maneira satisfatória, a materialidade do fato e os indícios de autoria do crime, o que justifica a necessidade de pronúncia do acusado.
Ela citou na decisão as qualificadoras dos crimes imputados ao empresário: motivo torpe, meio cruel e perigo comum, surpresa e impossibilidade de defesa da vítima e feminicídio.
“As provas até então produzidas nos autos demonstram que o sentimento de posse do réu pela vítima, o seu menosprezo por ela como ser humano detentor de direito de conduzir a sua vida, o controle que ele acreditava ter sobre ela e consequentemente sobre a vida dela, perseguindo-a e a monitorando onde quer que ela fosse, bem como, a necessidade de vingança ao vê-la com outra pessoa foram os motivos que o levaram a matá-la, motivos esses repugnantes, vis e desprezíveis”, destacou a juíza.
“Diante da suficiente demonstração de que o denunciado assassinou uma pessoa de trinta anos de idade, que ele sequer conhecia, munido do sentimento de vingança e ciúmes decorrente do fato dele (a vítima) estar se relacionando com mulher que era sua ex namorada, configurado esta a torpeza de sua conduta vil e desprezível”.
“Desse modo, demonstrada a materialidade do delito e verificada a existência de indícios que apontem o denunciado como autor do delito e a ocorrência das qualificadoras, a denúncia deve ser acolhida e o acusado pronunciado, para ser submetido a julgamento do Tribunal de Júri, por estarem presentes os pressupostos estabelecidos no artigo 413, do Código de Processo Penal, e, não ter sido demonstrado nos autos, de forma inquestionável, circunstância que exclua o crime, isente o agente de pena ou enseje a desclassificação”, decidiu a magistrada.
O caso tramita em sigilo.
Entenda o caso
O crime ocorreu no dia 18 de janeiro deste ano, na frente de um prédio residencial, no bairro Alvorada, na Capital. O casal morreu na calçada do prédio após o acusado disparar tiros contra as vítimas.
Horas após o crime, o acusado, que é filho do ex-deputado federal Carlos Bezerra, foi preso em flagrante numa fazenda da família, no município de Campo Verde.
Conforme apurado durante a investigação policial, Carlinhos, como é conhecido, manteve um relacionamento amoroso por cerca de dois anos com Thays Machado, chegando a morar com a vítima. E, desde o início, ele se mostrou controlador e possessivo por vigiar cuidadosamente cada movimento dela, incluindo o telefone celular e as redes sociais.
Na denúncia, o Ministério Público apontou que, embora “estivesse inserida num relacionamento explicitamente abusivo, a vítima não encontrava forças para rompê-lo e buscar auxílio pelas vias policiais e judiciais disponíveis, pois entendia que, pelo fato de o denunciado ser filho de político de renome, tinha ‘costas quentes’, havendo risco, inclusive, da situação ser revertida contra ela”.
Em dezembro de 2022, Thays rompeu o relacionamento. Desconfiado de que ela estava com outro, ele “passou a vigiá-la mais intensamente ainda, monitorando-a a todo tempo através de ligações, aplicativos de rastreamento, já planejando a sua morte”.
Em janeiro de 2023, ela iniciou novo relacionamento com Willian Cesar Moreno. No dia 18 de janeiro, Thays foi com o carro da mãe buscar o namorado no aeroporto. Utilizando os mecanismos de rastreamento a que tinha acesso, Carlos teria a seguido até Várzea Grande, acompanhado o desembarque do namorado, e seguido o carro na volta quando foi percebido pelo casal. A mulher ligou para o Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), registrou o caso na Central de Flagrantes, mas Carlos conseguiu fugir.
Na mesma data, durante a tarde, Thays e Willian foram até o prédio da mãe dela para devolver o carro. Depois de deixar as chaves do veículo da mãe na portaria do prédio, Thays e Willian caminharam até a calçada na frente do edifício para chamar um Uber, quando foram mortos.
Para o MPE, o acusado agiu “de forma cruel e covarde, revelando extrema perversidade, ao agredir a vítima com diversos disparos de armas de fogo, descarregando uma pistola semiautomática em área urbana de intensa movimentação de pessoas, em plena luz do dia, no horário comercial de um dia útil”.