O Ministério Público do Estado (MPE) voltou a requer a revogação da prisão domiciliar humanitária concedida ao empresário Carlos Alberto Gomes Bezerra, réu por matar a ex-companheira Thays Machado e o namorado dela, Willian César Moreno, a tiros em Cuiabá.
Em parecer protocolado neste domingo (25), o promotor de Justiça Jaime Romaquelli apontou que o MP recebeu denúncia de que Carlinhos, como o acusado é conhecido, teria saído de casa e ido a supermercados acompanhado de seguranças, descumprindo ordem judicial.
“Chegou ao nosso conhecimento, também, Excelência, que no período em que esteve tornozelado cumprindo prisão domiciliar, o réu CARLOS ALBERTO fez diversos deslocamentos não autorizados pelo juízo, inclusive comparecendo a supermercados da cidade, ladeado por segurança armados, representando uma afronta à justiça e à sociedade, e uma ameaça aos familiares e testemunhas do processo”, relatou o promotor.
Desta forma, requereu que seja acostado nos autos um relatório detalhado da tornozeleira eletrônica sobre todos os deslocamentos feitos por Carlos desde que novembro de 2023, quando foi beneficiado com a prisão domiciliar.
Para conseguir sair da cadeia e ir para casa, Carlinhos alegou que possui diversas comorbidades psicológicas e físicas, como a diabetes, cujo tratamento não seria possível ser feito no Presídio da Mata Grande, em Rondonópolis, onde estava segregado.
Mas, de acordo com o promotor, o réu apresentou alguns exames e atendimentos médicos relacionados a tratamento estético, dentário, fisioterapia, radiografias, que não têm relação com a doença alegada e sequer demonstram extrema debilidade que autorizasse a prisão domiciliar.
“No caso em estudo, tudo demonstra que o réu, desde que use os medicamentos necessários para o controle do diabetes, goza de plena saúde, tanto que se mostrou apto para circular pessoalmente pela cidade à caça de atestados e exames, sem ser transportado por terceiros e administra, ele próprio, o cronograma de uso dos medicamentos”, frisou Romaquelli.
“(...) o caminho que se impõe é a revogação da prisão domiciliar, restabelecendo-se a decisão que decretou a prisão preventiva, pelas razões expostas no parecer anterior, vez que imprescindível para garantia da ordem pública e para assegurar o bom desenvolvimento das provas em plenário”, cobrou o promotor.
Entenda o caso
O crime ocorreu no dia 18 de janeiro de 2023, na frente de um prédio residencial, no bairro Alvorada, na Capital. O casal morreu na calçada do prédio após o acusado disparar tiros contra as vítimas.
Horas após o crime, o acusado, que é filho do ex-deputado federal Carlos Bezerra, foi preso em flagrante numa fazenda da família, no município de Campo Verde.
Conforme apurado durante a investigação policial, Carlinhos, como é conhecido, manteve um relacionamento amoroso por cerca de dois anos com Thays Machado, chegando a morar com a vítima. E, desde o início, ele se mostrou controlador e possessivo por vigiar cuidadosamente cada movimento dela, incluindo o telefone celular e as redes sociais.
Na denúncia, o Ministério Público apontou que, embora “estivesse inserida num relacionamento explicitamente abusivo, a vítima não encontrava forças para rompê-lo e buscar auxílio pelas vias policiais e judiciais disponíveis, pois entendia que, pelo fato de o denunciado ser filho de político de renome, tinha ‘costas quentes’, havendo risco, inclusive, da situação ser revertida contra ela”.
Em dezembro de 2022, Thays rompeu o relacionamento. Desconfiado de que ela estava com outro, ele “passou a vigiá-la mais intensamente ainda, monitorando-a a todo tempo através de ligações, aplicativos de rastreamento, já planejando a sua morte”.
Em janeiro de 2023, ela iniciou novo relacionamento com Willian Cesar Moreno. No dia 18 daquele mês, Thays foi com o carro da mãe buscar o namorado no aeroporto. Utilizando os mecanismos de rastreamento a que tinha acesso, Carlos teria a seguido até Várzea Grande, acompanhado o desembarque do namorado, e seguido o carro na volta quando foi percebido pelo casal. A mulher ligou para o Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), registrou o caso na Central de Flagrantes, mas Carlos conseguiu fugir.
Na mesma data, durante a tarde, Thays e Willian foram até o prédio da mãe dela para devolver o carro. Depois de deixar as chaves do veículo da mãe na portaria do prédio, Thays e Willian caminharam até a calçada na frente do edifício para chamar um Uber, quando foram mortos.
Para o MPE, o acusado agiu “de forma cruel e covarde, revelando extrema perversidade, ao agredir a vítima com diversos disparos de armas de fogo, descarregando uma pistola semiautomática em área urbana de intensa movimentação de pessoas, em plena luz do dia, no horário comercial de um dia útil”.
Carlinhos já foi pronunciado e será submetido a júri popular.