Da Redação
O relacionamento abusivo tem um ciclo de violência doméstica que se caracteriza pela continuidade e repetição ao longo do tempo. Ele possui três fases e o padrão de interação, geralmente, termina onde havia começado. E é justamente em situação de limite que pode ocorrer o feminicídio, conforme explicou a juíza Ana Graziela Vaz de Campos, da 1ª Vara de Violência Doméstica de Cuiabá.
Segundo ela, a fase 1 é o momento de estranhamento, de tensão, onde qualquer coisa que a mulher faça, por menor que seja, é motivo de discussão, o homem fica bravo e começam os xingamentos. A fase 2 é a agressão propriamente dita, onde a vítima é espancada, diminuída, acontecem maus-tratos e tende a crescer na frequência e intensidade. A fase 3 é a lua de mel, em que o agressor pede perdão, se diz arrependido e garante que isso nunca mais vai acontecer.
“E a mulher quer manter o relacionamento, acredita que isso nunca mais vai acontecer, voltando para a fase 1, passando pela fase 2 e novamente pela terceira fase. Ela é agredida novamente e, com o passar do tempo, as fases do ciclo da violência vão ficando cada vez mais curtas, sendo vítima constante de violência doméstica”, reiterou a magistrada.
De acordo com a juíza Ana Graziela, é preciso ter coragem de denunciar o agressor para romper o ciclo de violência e, assim, evitar um possível feminicídio.
“É preciso se empoderar, ter como se sustentar, ter pessoas para quem falar, já que o agressor quer afastar dos familiares, dos amigos e às vezes até do serviço, proibindo a vítima de trabalhar, porque é mais fácil dele controlar. É interessante que tenha como se manter e manter os filhos para poder ter coragem de denunciar e sair do ciclo da violência”, disse.
A magistrada destacou que é importante que a mulher perceba que está sendo vítima de violência doméstica. Muitas vezes, o homem é educado, um príncipe, mas não deixa visitar a casa de familiares sozinha, proíbe de praticar esportes e outras atividades para não ter contato com pessoas. Assim, é mais fácil dele controlá-la e não ter como pedir socorro.
Todo relacionamento abusivo começa com pequenas humilhações, com ameaças, até chegar em um empurrão, numa quebra de braço, numa fratura e depois feminicídio.
“A violência doméstica, se não for cortada no início, caso contrário, a mulher que está passando por essa situação, pode ser, provavelmente, uma vítima de feminicídio”, alertou a juíza.
Serviço
O Tribunal de Justiça possui diversos projetos que auxiliam mulheres vítimas de agressão, como os Círculos de Construção de Paz, Oficina de Pais e Filhos, além de parceiros. Um deles é o Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) que, por meio de cota para vítima de violência doméstica, recebe mulheres para cursos técnicos, pós-graduação e até mestrado, sem nenhum custo.
Há também parceria com Prefeitura de Cuiabá, onde as mulheres são encaminhadas para cursos de capacitação.
Medidas protetivas
Conforme a magistrada, nas situações onde as medidas protetivas são utilizadas, geralmente, não ocorre um fato mais grave.
“Dos últimos feminicídios que aconteceram, nenhum tinha medida protetiva. Em 2017, uma mulher que foi vítima de feminicídio desistiu da medida protetiva, pois achava que o agressor não oferecia mais perigo e, com isso, foi assassinada. Em Mato Grosso, raríssimas exceções são aquelas vítimas que tinham medidas protetivas e foram assassinadas. Por isso, é importante procurar ajuda, procurar a polícia, Ministério Público, o Judiciário, para cortar a violência no início”, afirmou. (Com informações da Assessoria do TJMT)