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Penal Quinta-feira, 04 de Julho de 2019, 08:10 - A | A

04 de Julho de 2019, 08h:10 - A | A

Penal / ENTRADA DE CELULARES

Ex-diretores da PCE, PMs e membros do CV são denunciados

Os sete denunciados vão responder por integrar, financiar e promover organização criminosa e também por introdução de celulares em presídios; cinco deles pelo crime de corrupção ativa e dois por corrupção passiva

Da Redação



O Ministério Público do Estado (MPE) denunciou o ex-diretor e o ex-subdiretor da Penitenciária Central do Estado (PCE), Revétrio Francisco da Costa e Reginaldo Alves dos Santos, por facilitarem a entrada de aparelhos celulares na unidade.

Além deles, também foram denunciados Paulo Cesar dos Santos, vulgo “Petróleo” e Luciano Mariano da Silva, conhecido como “Marreta”, ambos pertencentes ao Comando Vermelho e os militares Cleber de Souza Ferreira, Ricardo de Souza Carvalhaes de Oliveira e Denizel Moreira dos Santos Júnior.

Eles foram presos durante a Operação Assepsia, no último dia 18, que apurou o caso.

Ao grupo foram imputados quatro atos criminosos. Os sete denunciados vão responder por integrar, financiar e promover organização criminosa e também por introdução de celulares em presídios; cinco deles pelo crime de corrupção ativa e dois por corrupção passiva.

O caso

Conforme consta na denúncia, no dia 6 de junho passado, por volta das 13h, misteriosamente os portões da PCE se abriram e uma camionete Ford Ranger Preta ingressou na unidade levando sobre a carroceria um freezer branco “recheado” de celulares. Os ocupantes dos veículos não foram identificados por determinação dos diretores. O equipamento que deveria ser colocado na sala do diretor acabou sendo disponibilizado em um corredor.

No mesmo dia, os três policiais militares denunciados também estiveram na penitenciária à paisana com um veículo Gol, estando um deles com duas sacolas cheias de objetos não identificados nas mãos.

“Os três policiais entraram na sala de Revétrio e em seguida Revétrio ordenou que trouxessem para aquela sala o preso Paulo Cesar e ficaram ali, em reunião bastante informal, por mais de uma hora com o aludido preso. Estavam tratando do que? O freezer recheado de celulares era destinado a Paulo Cesar”, diz a denúncia.

Em depoimentos prestados à polícia, um dos líderes do Comando Vermelho revela que durante a reunião eles falaram o tempo todo sobre a entrada do freezer com os aparelhos celulares. Na ocasião, Reginaldo teria alertado para que retirasse todos os celulares durante a noite e utilizasse a cola, que estava junto com os objetos, para fechá-lo novamente.

Também foi relatado que no interior da sala havia sido combinado o pagamento de parte dos lucros obtidos com a comercialização dos celulares dentro do presídio (promessa de recompensa).

O esquema, conforme o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), foi descoberto após a troca do pessoal da guarda. Sem saber que o freezer seria levado diretamente para a sala do diretor, a agente ordenou que passasse pelo scanner, quando foram encontrados 86 aparelhos celulares, carregadores, baterias, fones de ouvido, todos escondidos sob o forro da porta do freezer, envoltos em papel alumínio para fins de neutralizar a visão do scanner.

De acordo com a denúncia, no momento do desmonte do freezer, os policiais do Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) apreenderam todos os equipamentos encontrados e das imagens de câmeras internas.

Também foi realizada a oitiva dos envolvidos. Com as diligências policiais, descobriu-se que a camionete que trouxe o freezer pertencia a Luciano Mariano da Silva, o Marreta, e estava sendo utilizado por amigos de facção.

“Coincidência”

Conforme apurado durante as investigações, os dois líderes do Comando Vermelho estão presos já há algum tempo e mesmo de dentro do presídio gerenciavam parcela das atividades da facção.

Coincidências à parte, segundo destacou o Gaeco, a entrada dos celulares ocorreu poucos dias antes do líder máximo da facção em Mato Grosso, Sandro da Silva Rabelo, o “Sandro Louco”, ter sido trazido de volta do presídio federal onde se encontrava cumprindo pena.

O Gaeco ressalta ainda que os membros da organização mantém-se unidos por grupos de WhatsApp ou recurso similar, compartilhando decisões e ordens. O aparelho celular tornou-se instrumento de extrema utilidade.

“Através dos celulares são dadas ordens, inclusive de execução de pessoas que se intrometam em seu caminho, e comprovado em tempo real o seu cumprimento. Dia a dia são vistos vídeos de execuções sumárias, com requintes de extrema crueldade, como forma de estimular a obediência às ordens dos comandantes da organização”, diz outro trecho da denúncia.

Um aparelho celular que pode ser comprado por R$ 700,00, por exemplo, chega a ser vendido a R$ 5 mil no interior do presídio. Os 86 celulares e demais apetrechos apreendidos, que podem ter sido adquiridos pelo mercado negro por R$ 40 a R$ 50 mil, seriam transformados em mais de R$ 450 mil. (Com informações da Assessoria do MPE)