Hoje volto a falar de um assunto que venho discutindo há um bom tempo em meus artigos e que volta a ganhar, recentemente, o noticiário nacional: a violência contra a mulher. Mato Grosso se tornou epicentro, por conta do elevado número de assassinatos de mulheres, durante esta pandemia da Covid-19.
Desta vez, “pego carona” no elaborado manifesto realizado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso, que divulgou Carta Aberta pelo combate à 'Pandemia da Violência Contra a Mulher' em suas redes sociais, reproduzido por vários sites no Estado. Segundo o manifesto, houve um aumento de 400% no número de feminicídios em Mato Grosso.
Revelando uma realidade visivelmente assustadora – e vergonhosa – se observarmos que Mato Grosso tem figurado, reiteradas vezes, em vários estudos nacionais, superando a média nacional neste tipo de crime.
Desta vez, gostaria de realizar esta discussão por meio de um texto colocado no grupo “Mulheres que Lideram MT”, sobre sororidade. Aliás, um texto perfeito!
Acredito piamente que, se as mulheres se unirem, deixando pequenas rusgas de lado, baseando suas relações na empatia e companheirismo [que é o significado da palavra 'sororidade'], vamos encurtar um longo caminho, em se tratando de alcançar objetivos em comum.
Assim, concordo que a sororidade, infelizmente, ainda nos pareça "uma utopia", já que é muito comum ver mulheres competindo umas com as outras, nutrindo uma rivalidade sem fim. Desvelando um sentimento tão enraizado entre nós, que já passa despercebido.
Precisamos, até por sobrevivência, colocar um fim a esta secular “inveja” que algumas mulheres ainda teimam em ter uma da outra. Digo isto como empresária de comunicação, pois já fui boicotada inúmeras vezes por mulheres em situações de poder, quando precisei vender e até receber por trabalhos institucionais realizados pelo site Única News ou Revista Única.
Precisamos, sobretudo, usar a sororidade nestes tempos de pandemia, tempos de um aumento vertiginoso de agressões e mortes, tendo a mulher como alvo. Usando a palavra, na prática, sobre o quanto poderíamos fazer uma pela outra. Do ponto de vista, inclusive, de corrermos dos julgamentos fáceis, feitos entre as próprias mulheres, ajudando a fortalecer estereótipos preconceituosos criados por uma sociedade machista e patriarcal.
Digo com frequência a amigos mais próximos que sou contra aquele velho “conceito feminista”, de homens contra mulheres, mas sou inteiramente a favor de que haja uma irmandade maior entre nós.
Sob o olhar, inclusive, daquela velha ideia que persiste entre nós de que “quem defende mulher, não é a outra, mas um marido ou um irmão”, revelando que estamos – em pleno século 21 – sendo pautadas por velhos jargões como a frase, por exemplo, “que aquele que se sentir tentado a me agredir, saiba que há um homem em minha família”. Mesmo que a gente saiba que esta é uma pseudoverdade.
Desta forma, se a origem da palavra “sororidade” está no latim sóror, que significa “irmãs”, que então este termo nos sirva para denunciar as agressões que muitas de nós sabem que ocorrem na casa de uma amiga ou de uma vizinha.
Se víssemos a outra como parte de nós – e não contra – em meio a esta luta exaustiva de delimitar nosso espaço com decência e, diga-se de passagem, em uma luta sem tréguas pelos nossos direitos, talvez pudéssemos evitar que o feminicídio se torne tema recorrente nos noticiários.
Quem sabe conseguiríamos reduzir os números gigantescos de agressões e mortes sob a “'velha desculpa masculina” de que “quem manda em casa é o homem”. Ou os números que apontam um crescimento cada vez maior de assassinatos de mulheres nesta pandemia da Covid-19.
A luta agora é evitar números que demonstrem que estamos, cruelmente, lutando duplamente pela vida nesta pandemia: uma contra o coronavírus e outra contra o ciclo de violência sem fim, que há anos nos torna alvos fáceis.
Lucy é empresária, Diretora do site Única News e da Revista Única.