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Opinião Quinta-feira, 19 de Janeiro de 2023, 16:18 - A | A

19 de Janeiro de 2023, 16h:18 - A | A

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Nenhuma a menos, todas as vezes

Já passou da hora da outra metade da humanidade se conscientizar, e vir para o lado de quem exige nenhuma a meno



E todas as vezes, temos visto uma mulher a menos, uma amiga, uma irmã, uma mãe, uma pessoa inocente a menos.

Nenhuma a menos é uma frase que movimentos pelos direitos das mulheres utilizam para simbolizar o que não podemos admitir: a perda de uma mulher para a violência.

Para simbolizar que nós estamos atentas umas às outras, como companheiras, sucetíveis ao menos tipo de crimes e discriminações.

Mas temos muitas a menos. Perdemos muitas para o feminicídio e tantos outros males que atingem as mulheres como grupo social.

Mas já passou da hora da outra metade da humanidade se conscientizar, e vir para o lado de quem exige nenhuma a menos.

A modificação estrutural só ocorrerá com o engajamento de toda a sociedade. Especialmente os homens, cuja principal missão hoje é a de refletir acerca do que seja, para ele mesmo, a sua masculinidade.

Não sou partidária do termo masculinidade tóxica. Muito embora ela exista, no abuso, na violência, no preconceito, no menosprezo da capacidade feminina…. Sentimentos e situações que levam à despersoniificação das mulheres que com ele convivem, ferindo, muitas vezes à ponto de matar.

Sou partidária de que os homens - especialmente os que se propõem à uma nova e melhor convivência com as mulheres, reflitam sobre si mesmos. A ponto de detectarem se não vinculam a fidelidade de suas parceiras (por exemplo) à sua essência de ser homem (como boa parte dos feminicidas). Que reflitam sobre si mesmos, para verificarem se não vinculam a ideia de sentirem-se menos homens, em caso de fim de relacionamento, se têm capacidade de perceber que sua vida continua integra, mesmo que sua mulher desejar o fim.

Para tanto, devemos incentivar a existência dos grupos reflexivos, de homens, para que entre si reflitam e se tornem independentes de preconceitos herdados. Tarefa para o Poder Público que já vem pondo em prática no Poder Judiciário e aqui em Mato Grosso na PM, é tarefa para as empresas, que podem ganhar muito com o fim do assédio e em produtividade, num ambiente mais saudável.

A cada uma mulher vítima de feminicídio, observo pessoas consternadas, mas muitas ainda em negação do termo, e da óbvia repetição das mesmas características do crime.

Sem conscientização não haverá mudança.

Observo o Poder Judiciário e o Poder Executivo, por meio da segurança pública e assistência social, discutindo, aperfeiçoando e modificando cada fase de atendimento após a denúncia. Isso é necessário. Mas é preciso atacar a raiz cultural.

Esse crime se baseia em preconceito histórico quanto aos papéis de homem e mulher. Atinge ricos e pobres. Cultos e sem conhecimento formal. Perpassa religiões, indiferente à cor.

E destrói famílias. Lutamos para socorrer os órfãos do feminicídio.

É preciso nos comprometer em atacar a causa.

Nenhuma a menos.

Mas só ontem em Mato Grosso, foram duas mulheres a menos.

Glaucia Amaral é presidente da Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Mato Grosso (OAB-MT)