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Cuiabá, 05 de Julho de 2025

Opinião Sexta-feira, 03 de Setembro de 2021, 14:23 - A | A

Sexta-feira, 03 de Setembro de 2021, 14h:23 - A | A

Independe ou morre

A advocacia de Várzea Grande busca sua emancipação funcional, libertando-se do cabrestamento desnecessário, que mais encurta os passos dos aplicadores do Direito nesta comarca, do que assegura o bom andamento processual nos devidos trâmites legais

Jônatas Peixoto Lopes

Ao dar o seu grito, verbalizado nas celebres palavras, que compõem o “Grito de Independência”: “Independência ou Morte”, Pedro de Alcântara de Bragança, possivelmente não seria capaz de dimensionar as nuances de seu brado, ali às “Margens plácidas do Ipiranga”, lá pelos idos de 7 de Setembro de 1822.

Essa imortal expressão tanto pode sugerir o ato de ficar independente, de maneira pacífica, ou morrer para conquistar a independência; como pode apontar para o significado da destinação escolhida, a de senão ficarmos independentes, a dura morte é preferível.

Para algo menos dramático e mais existencialista, também pode se tomar como manifestação da realidade, na esteira dos fatos, a significação de que ou se torna independente ou morre.

A potencialidade e legitimidade daquele grito, talvez tenham fugido ao entendimento do Príncipe Regente do Brasil. O que pode tê-lo motivado a bramir sua espada e com ela a voz, talvez fosse mesmo, naquela época, o anseio nacional de se ter um país independente da coroa. Mas os acontecimentos evolutivos ocorridos sob o céu azul anil, nesta terra da pátria amada, mãe gentil, têm mostrado que aquele grito tem soado muito forte ainda.

O ressoar daquele brado tem sustentado o seu legado e manifestado a sua legitimidade para provocar independência em muitos setores e âmbitos da sociedade brasileira. Nem sempre essa independência tem sido estabelecida a custa de vidas, mas, estabelece-se pela demonstração de resistência, de capacidade, de valor e de trabalho. Faltaria muito espaço em qualquer tratado literário para se discutir sobre todos os históricos valiosos e vitoriosos que levaram um lado não depender mais do outro. A cidade de Várzea Grande, desde a sua fundação, em 1867, sob a visão do Brigadeiro José Vieira Couto Magalhães, quem teve a iniciativa de fundar o seu Acampamento Magalhães, para aprisionar soldados paraguaios vencidos; mostra, pela qualidade e valor de seu povo, que a ideia do brigadeiro não vingou, como também não poderia se sustentar.

Uma terra tão boa e tão rica não poderia ser ocupada se não para algo muito mais precioso, ou seja, o desenvolvimento dela própria, por pessoas e famílias corajosas e trabalhadeiras. Tão logo a Guerra do Paraguai teve o seu fim determinado, e o acampamento tenha perdido a sua razão de ser, quem aqui estava, reconhecendo o rico solo sobre o qual vivia, começou a trabalhar para que outra realidade pudesse ser manifesta. Aponta a história que aqui já havia reses para serem abatidas. Com isso, proporcionava o comércio de carne seca, e todos os outros produtos e subprodutos provenientes do boi.

A região, hoje conhecida como Baixada Cuiabana, já tinha um forte fornecedor de viveres e materiais de suma importância nas vidas das pessoas. Foram tantas as demonstrações de força de trabalho, de capacidade de se manter como uma terra independente da Capital, que em 1948, veio o reconhecimento e a emancipação em relação à Cuiabá. Tudo o que aconteceu, de forma positiva, para contribuir com o progresso desta cidade, mostra que aqueles que tomaram aquela decisão para o ato político não erraram. Juntamente com o povo várzea-grandense, originário de soldados, prisioneiros paraguaios libertados, todos os que chegaram aqui têm trabalhado e construído uma comarca digna de valor, muito próspera e propícia para se viver em família.

Todos os setores da economia têm produzido o suficiente, não só para atender quem aqui vive, sem depender do outro lado rio, como também para acudir outras regiões menos favorecidas. O setor industrial, comercial e de serviços desenvolvem atualmente atividades de destaque no cenário regional, estadual e até mesmo nacional. A formação acadêmica tem recebido especial atenção, vinda das instituições especializadas no ensino superior.

Profissionais da Educação, da Medicina e do Direito, têm sido oferecidos à população, egressos de conceituadas Escolas, com aproveitamento acadêmico que recebe altas notas de conceito das instituições reguladores superiores. Seguindo o raciocínio de que ou torna-se independente ou morre; a advocacia de Várzea Grande busca sua emancipação funcional, libertando-se do cabrestamento desnecessário, que mais encurta os passos dos aplicadores do Direito nesta comarca, do que assegura o bom andamento processual nos devidos trâmites legais.

Não se trata de uma emancipação usurpada, sem fundamentação histórica ou sem o legítimo direito de a requer.  Várzea Grande possui todo o aparelhamento funcional necessários no ramo do Direito, com instituições que formam advogados dos mais altos gabaritos.

Além disso, abriga, em seu território, todas as casas que representam a lei e a defesa do cidadão. O crescimento será sempre saudável, quando não há força repressora, que obriga o que quer que seja a atuar sob moldes inadequados e ultrapassados.

Jônatas Peixoto Lopes é advogado e professor universitário