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Cuiabá, 07 de Junho de 2025

Justiça Estadual Terça-feira, 19 de Novembro de 2019, 14:43 - A | A

Terça-feira, 19 de Novembro de 2019, 14h:43 - A | A

GRAMPOLÂNDIA PANTANEIRA

Jarbas assumiu secretaria para blindar organização e atrapalhar investigações

Por tentar interferir nas investigações, Rogers Jarbas tem de usar tornozeleira eletrônica e cumprir medidas cautelares impostas pela Justiça

Lucielly Melo

O delegado Rogers Elizandro Jarbas assumiu o cargo de secretário de Estado de Segurança Pública, na gestão de Pedro Taques, para “blindar” a organização criminosa envolvida no escândalo dos grampos ilegais e impedir o seguimento das investigações sobre a trama ilícita.

Isso é o que consta no pedido de prisão preventiva elaborado pelas delegadas Ana Cristina Feldner e Jannira Laranjeira ao juiz Jorge Luiz Tadeu Rodrigues, da Sétima Vara Criminal de Cuiabá, após constatarem que o delegado aposentado segue tentando interferir nas apurações do caso da “Grampolândia Pantaneira”.

O pedido de prisão foi negado pelo magistrado. Porém, o juiz impôs o uso de tornozeleira eletrônica à Jarbas e outras medidas cautelares.

O esquema dos grampos foi realizado por militares que, supostamente, teriam sido comandados pelo ex-governador Pedro Taques e pelo seu primo e ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, para atender seus interesses políticos.

No documento, que o Ponto na Curva teve acesso, as delegadas narraram que o grande erro da organização criminosa “teria sido a não ocupação da Secretaria de Segurança Pública logo no início da gestão do então governador Pedro Taques".

Isso porque foi o promotor de Justiça Mauro Zaque o escolhido para assumir a função. Como a suposta quadrilha não convenceu o então secretário de participar do enredo ilícito e ter sido o responsável por denunciar a prática criminosa de escutas clandestinas, ele acabou por sair do cargo.

De acordo com as delegadas, a Orcrim (organização criminosa) passou a procurar alguém que “gozasse confiança”. Teria sido dessa forma que Jarbas foi nomeado, fechando o “flanco que havia”.

"Desta forma, tornava-se imperioso que a organização criminosa tivesse o alcance e controle daquele local, especialmente no intuito de tentar ter o controle de eventuais investigações que interferissem nos interesses do grupo criminoso, inclusive quanto aos próprios grampos clandestinos. Manutenção da estrutura e funcionamento da ORCRIM passava, portanto, por uma "reestruturação funcional" nos quadros da Segurança Pública, missão dada a Rogers Elizandro Jarbas", alegaram as delegadas.

Não resta dúvida que Rogers Jarbas passou a integrar a organização criminosa, assumindo o cargo de secretário de Segurança Pública para exercer o papel de blindar a organização para que a mesma continuasse íntegra e, para isso seria preciso conter, impedir ou no mínimo atrapalhar qualquer andamento referente à denúncia realizada pelo então secretário Mauro Zaque, ou qualquer outra investigação que eventualmente pudesse colocar em risco a ORCRIM e/ou seus integrantes

"É exatamente nesse contexto que o investigado Rogers Jarbas assume aquele secretariado. A partir desse momento não resta dúvida que Rogers Jarbas passou a integrar a organização criminosa, assumindo o cargo de secretário de Segurança Pública para exercer o papel de blindar a organização para que a mesma continuasse íntegra e, para isso seria preciso conter, impedir ou no mínimo atrapalhar qualquer andamento referente à denúncia realizada pelo então secretário Mauro Zaque, ou qualquer outra investigação que eventualmente pudesse colocar em risco a ORCRIM e/ou seus integrantes. Aliás, a defesa de integrantes identificados após a denúncia apresentada pelo promotor Mauro Zaqueu sempre foi pública por parte de Rogers Jarbas”, diz outro trecho do documento.

Caça aos delegados

Feldner e Laranjeira ainda relataram que assim que assumiu o cargo e até que o esquema de grampos veio à tona, em torno de um ano, Jarbas teria praticado diversas condutas com o propósito de garantir a manutenção da organização.

De forma intimidatória e de demonstração de poder, ele teria iniciado uma “caça” aos seus próprios colegas de trabalho – delegados da Polícia Civil que estavam à frente das investigações sobre a Grampolândia ou que tinham envolvimento com Mauro Zaque.

Entre os alvos do acusado, estão os delegados Alessandra Saturnino, Alana Darlene, Rafael Meneguini, Flávio Stringueta e até a própria Ana Cristina Feldner.

No caso de Alessandra Saturnino, após ser secretária adjunta de Inteligência quando Zaque chefiou a Sesp, retornou aos quadros da Polícia Civil e passou a atuar na Delegacia Especializada em Crimes Contra a Administração Pública e Fazendários (Sefaz). Entretanto, o então secretário Rogers Jarbas ordenou sua retirada.

A delegada Darlene alegou ter pedido seu desligamento do cargo de diretora de Inteligência da PC após ter tido um colapso de nervoso, em razão de ter sido perseguida por Jarbas.

Quanto ao Flávio Stringueta, Jarbas já responde uma ação penal na Justiça por ameaça e coação. Ele teria enfrentado o colega no estacionamento de um supermercado, em Cuiabá, após Stringueta coordenar as investigações da Operação Esdras, que levaram Jarbas à prisão, também por interferir nas apurações dos grampos.