O irmão e sócio do ex-secretário Paulo Taques, advogado Pedro Jorge Taques, teria tentado produzir documentos para ocultar as ilegalidades do contrato entre o Detran e a EIG Mercados Ltda. e, consequentemente, manter o suposto esquema de pagamentos de propinas.
A acusação foi feita pelo sócio da EIG, José Gonçalves Neto e consta na decisão que causou a deflagração da Operação Bônus na última quarta-feira (9).
Tudo começou quando, em agosto de 2016, Neto dispensou Valter Kobori da direção da empresa, mas foi informado que ele tinha que receber um “bônus”, já que que Kobori havia assumido compromisso com o Estado para ganhar de tal valor.
Após a suspensão do pagamento da propina, Pedro Jorge teria contatado Neto para que Kobori fosse mantido no quadro funcional da EIG, “visto que ‘tinha assunto pendente no Estado para resolver’ e pedindo, também, para que José Henrique comparecesse em Cuiabá para conversar, deixando claro nessa conversa que Kobori estava alinhado com Pedro Zamar Taques e Paulo Taques nos pagamentos de ‘bônus’”.
A jornada para a produção de documentos com a finalidade de arrumar uma explicação para a entrada de valores oriundos da EIG MERCADOS LTDA. está também registrada na documentação apresentada por Pedro Jorge Zamar Taques, na qual consta contrato prestação de serviços de advocacia com efeitos retroativos, conforme se extrai da cláusula sétima
“(...) que após a cessação de vínculo entre este e Valter José Kobori, possivelmente no mês de agosto do ano de 2016, Valter Kobori ‘disse para o interrogando que lhe apresentaria uma pessoa no Estado de Mato Grosso que poderia resolver todos os problemas relacionados ao contrato entre a empresa FDL/EIG e Detran/MT”.
Segundo o empresário, Pedro Jorge, a todo custo, tentou a retomada do cargo de Kobori na EIG. Neto citou que, em um almoço no final de 2016, o advogado teria lhe revelado que tinha “um problema muito sério em Mato Grosso”, e que Kobori precisaria falar com Paulo Taques.
Insatisfeito com a situação, o empresário teria rebatido ao dizer que ele quem representava a empresa, mas Taques reforçou que a “única pessoa” que poderia falar com seu irmão seria Valter, dando a entender que o ex-diretor teria que voltar para a empresa.
Já em março do ano passado, Pedro Jorge contatou, via Whatsapp, com o declarante, dizendo que tinha que o ex-diretor da EIG tinha que vir em Cuiabá para falar com Paulo Taques. Entretanto, Neto não o respondeu.
Documentos forjados
Para embasar sua declaração, José Henrique apresentou nos autos as conversas tidas recentemente com o advogado, inclusive uma datada em abril de 2018, em que Pedro entrou em contato com uma funcionária do empresário informando que "em função dos últimos acontecimentos” se viu obrigado a recolher impostos de todos os valores recebidos do escritório.
Para o Ministério Público, os “últimos acontecimentos” se referem às investigações que já estavam em curso e que atitude de Pedro Jorge revelam seu desespero para “produzir documentos que fizeram parecer serem legais as suas atividades relacionadas à EIG Mercados Ltda. decorrentes de ‘acordos verbais’, assim selados para atuação oculta, dada a sua ilicitude”.
“A jornada para a produção de documentos com a finalidade de arrumar uma explicação para a entrada de valores oriundos da EIG Mercados Ltda. está também registrada na documentação apresentada por Pedro Jorge Zamar Taques, na qual consta contrato prestação de serviços de advocacia com efeitos retroativos, conforme se extrai da cláusula sétima”, diz trecho da decisão.
Operação Bônus
A Operação Bônus (segunda fase da Bereré) foi deflagrada na quarta-feira (9) e teve como alvos Mauro Savi, Paulo Taques, Pedro Jorge Taques, Valter Kobori, Roque Anildo Reinheimer e Claudemir Pereira dos Santos, conhecido como “Grilo”.
Todos tiveram prisão decretada deferida pelo desembargador José Zuquim Nogueira, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), que ainda deferiu ordens de busca e apreensão em Cuiabá, São Paulo e Brasília.
A operação Bônus é resultado da análise dos documentos apreendidos na primeira fase da Bereré, dos depoimentos prestados no inquérito policial e colaborações premiadas, entre elas da empresa EIG Mercados.
As investigações tem como objetivo desmantelar organização criminosa instalada dentro do Detran para desvio de recursos públicos.