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Penal Sexta-feira, 08 de Setembro de 2017, 08:55 - A | A

08 de Setembro de 2017, 08h:55 - A | A

Penal / Em delação

Sílvio ‘entrega’ empresários que foram operadores financeiros de grupo criminoso

Estão entre os empresários Valdir Piran (Grupo Piran), Marilena Ribeiro (Construmóveis), Rômulo Botelho (SMTU), Avilmar Costa e Jurandir da Silva Vieira (Solução Cosméticos)

Lucielly Melo



O ex-chefe de gabinete, Sílvio César Corrêa Araújo, “entregou”, em sua delação premiada, cinco empresários que atuavam como operadores financeiros atendendo as necessidades da suposta organização criminosa criada no Governo do Estado, na gestão de Silval Barbosa.

Considerado como “braço direito” do ex-governador, Sílvio cumpria espontaneamente as ordens de Silval e costumava ir ao encontro dos empresários, oportunidades em que “levava e buscava valores em dinheiro ou cheques, este tanto pessoais como fruto de recebimento de propinas a depender das situações específicas".

Em seu depoimento ele listou o empresário Valdir Piran, proprietário do Grupo Piran. Conforme o delator, Sílvio se encontrou com o empresário em três ocasiões, onde o ex-chefe de gabinete foi até a sede da empresa para efetuar pagamentos de uma dívida que existia entre Silval e Piran.

Sílvio contou que Barbosa mandava-o entregar envelopes fechados contendo cheques a Piran. Ele disse que em um desses encontros, o empresário lhe devolveu uma nota promissória de R$ 1 milhão emitida pelo ex-governador, que este documento era uma dívida proveniente do governo de Blairo Maggi e que Silval teria se responsabilizado.

“(...) o Declarante se recorda que em uma das oportunidades, após entregar o envelope contendo cheques, Valdir Piran devolveu ao Declarante uma nota promissória no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) emitida por Silval Barbosa. Que no final do governo de Silval Barbosa (2014) o Declarante tomou conhecimento, através deste, que se tratava de uma dívida oriunda do governo de Blairo Maggi que Silval Barbosa havia herdado, bem como de dívida existente entre Valdir Piran e Assembleia Legislativa de Mato Grosso que acabou sendo também assumida por Silval Barbosa, não sabendo o Declarante fornecer detalhes sobre tais situações por desconhecê-las”, delineou o ex-chefe de gabinete. 

No final do governo de Silval Barbosa (2014) o Declarante tomou conhecimento, através deste, que se tratava de uma dívida oriunda do governo de Blairo Maggi que Silval Barbosa havia herdado, bem como de dívida existente entre Valdir Piran e Assembleia Legislativa de Mato Grosso que acabou sendo também assumida por Silval Barbosa

Construmóveis

Sílvio César esclareceu que o grupo criminoso também fez tratativas com a empresa Construmóveis, por meio da proprietária Marilena Ribeiro. Ele contou que já esteve com a empresária várias vezes, sempre com o intuito de pagar um empréstimo que ela tinha feito para o deputado Carlos Bezerra, na quantia de R$ 2,5 milhões e que por conta dos juros, o grupo político acabou pagando mais de R$ 5 milhões.

Ele explicou que devido esse débito, era comum que Bezerra fosse sempre cobrado por Marilena e que com isso, ele sempre iria ao gabinete de Sílvio “a fim de pressionar para que fosse providenciado respectivo pagamento”.

A dívida foi liquidada por meio de cheques e dinheiro. Sílvio explicou que o sistema de pagamento funcionou da seguinte maneira: quando eram feitos em cheque, geralmente Silval Barbosa lhe entregava, assim como também lhe dava as quantias em dinheiro, contudo, quando era somente em cédulas, o então chefe de gabinete tinha que buscar o montante junto ao Valdísio Viriato, secretário da Secretaria de Infraestrutura (Sinfra). Os recursos eram frutos de propinas pagas por empreiteiras ao grupo político naquele órgão.

“Que afirma também ter efetuado pequenos empréstimos pessoais com Marilena, tendo para tanto trocado alguns cheques de sua propriedade com a empresária, além de ter realizado um empréstimo maior no total aproximado de R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais) a R$ 700.000,00 (setecentos mil reais) visando o investimento com a aquisição de LTN – Letra do Tesouro Nacional. Que foi realizado através de vários empréstimos distintos que ao final totalizaram referido valor; Que para a aquisição desse empréstimo pessoal o Declarante assinou uma nota promissória, ao que se recorda em branco, a qual até o momento não foi paga pelo Declarante junto a Marilena”, contou.

O delator afirmou que, em outras ocasiões, pegou empréstimos com Marilena para quitar repasses que o governador tinha que fazer mensalmente aos deputados estaduais referente ao programa MT Integrado, mas que a empresária não tinha ciência do uso do dinheiro.

“Que afirma ter tomado também com Marilena algumas vezes empréstimos a fim de pagar os repasses que Silval Barbosa tinha que fazer mensalmente aos deputados estaduais referente ao Programa MT Integrado, sem que Marilena soubesse a finalidade desses empréstimos do qual tinha o Declarante que se valer, tendo em vista os constantes atrasos de pagamentos de propinas dos empreiteiros na Sinfra e a grande pressão que sofria por parte dos deputados”.

SMTU

Outra forma também encontrada pelo grupo corrupto de quitar a dívida que Silval tinha com os parlamentares, foi a troca de cheques pessoais com o empresário Rômulo Botelho.

Sílvio contou que encontrou com Rômulo por três vezes, onde pegou pessoalmente valores que totalizaram R$ 300 mil, que foram usados para quitar a dívida com os deputados e que este sistema era de conhecimento de Rômulo, já que na época tinha o irmão Luiz Marinho Botelho como deputado que também era beneficiado.

Empresário Avilmar Costa

Ainda conforme o depoimento de Sílvio, o empresário Avilmar de Araújo Costa, recebeu pagamentos de dívida oriunda da Assembleia Legislativa, referente a quantia de 12 cheques pessoais de Silval no valor de R$ 1,5 milhão cada um.

“Que afirma ter efetuado alguns pagamentos diretamente para a pessoa de Avilmar, não se recordando o ano específico, sendo sempre a mando de Silval Barbosa, o qual afirmou na época ao Declarante ter dado em garantia a Avilmar, em razão de uma dívida oriunda da Assembleia Legislativa (deputados estaduais) com Avilmar a quantia de doze cheques pessoais, do próprio Silval Barbosa, no valor de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais) cada um”.

Que para quitar a dívida, Sílvio se encontrou em seu gabinete, de três a cinco vezes com Avilmar, oportunidades em que realizava os pagamentos.

“Que para efetuar tais pagamentos a Avilmar, o Declarante se valia de valores que lhes eram entregues em sua maioria em dinheiro, não se recordando de ter pago Avilmar com cheques, os quais eram entregues diretamente ao Declarante por Silval Barbosa ou Valdisio Viriato, acondicionados em envelopes; Que acredita que os valores entregues pelo Declarante a Avilmar totalizaram o valor de R$ 1.500.000,00 (um milhão de reais), conseguindo assim efetuar o resgate de somente um dos chegues entregues a Avilmar por Silval Barbosa; Que esclarece que Silval Barbosa havia combinado com Avilmar pagamentos dos valores totais dos cheques, contudo o Declarante não conseguiu efetuar tais pagamentos, conseguindo quitar apenas um dos chegues dado por Silval Barbosa em garantia a Avilmar;

“Que em uma das oportunidades que o Declarante foi cobrado por Avilmar, o Declarante afirmou que o pagamento seria realizado em determinada data e para garantir o pagamento, Avilmar exigiu do Declarante um chegue pessoal no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), equivalente aos juros até a data do pagamento daquela parcela; Que na data aprazada, a parcela devida não foi paga e o Declarante não conseguiu resgatar seu cheque”, continuou.

Solução Cosméticos

O proprietário da Solução Cosméticos, Jurandir da Silva Vieira, também foi alvo da delação de Sílvio César. De acordo com o colaborador, Jurandir era um dos empresários “de maior confiança” de Silval Barbosa, e com isso, sempre esteve em encontros com o empreendedor para entregar cheques e dinheiro.

Sílvio narrou que o relacionamento entre o dono da Solução Cosméticos com o ex-governador, era antigo, desde a época em que Silval era deputado estadual.

O ex-chefe de gabinete explicou que Silval também foi avalista em dois empréstimos junto a Jurandir – um sendo realizado pela construtora Engeglobal, do empresário Rogério Garcia e outro feito por Carlos Avalone, dono da construtora Três Irmãos.

“Que sobre essas duas situações o Declarante não sabe dizer o valor dos respectivos empréstimos, nem a forma como os pagamentos ocorreram, contudo, segundo Silval Barbosa lhe confidenciou, que coube ao próprio Silval Barbosa, no ano de 2015, pagar o restante das dívidas que assumiu como avalista; Que o Declarante não sabe, contudo, qual a origem e nem a quantia do dinheiro empregado para pagamento; Que afirma que Silval mantinha contato direto com Jurandir, razão pela qual o Declarante às vezes recebia de Silval valores em cheques e em dinheiro em envelopes lacrados e os entregava a Jurandir, não sabendo assim mensurar o quanto efetivamente entregou a Jurandir a mando de Silval Barbosa, não se recordando também se houve pedido de Silval para o Declarante realizar alguma transferência bancária para Jurandir ou se este fez alguma transferência bancária para Silval Barbosa”.