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06 de Maio de 2024

Penal Quarta-feira, 24 de Abril de 2024, 14:48 - A | A

24 de Abril de 2024, 14h:48 - A | A

Penal / MATOU CASAL

MP diz que filho de ex-deputado "acredita estar acima da lei" ao insistir em prisão domiciliar

O novo pedido da defesa alegou que o empresário precisa passar por exames e duas cirurgias, que demandariam a recuperação na residência dele

Lucielly Melo



O Ministério Público do Estado (MPE) se manifestou contra o pedido do empresário Carlos Alberto Gomes Bezerra, para sair do presídio em Várzea Grande para realização de exames, cirurgias e pós-operatório em casa.

O promotor Jaime Romaquelli, que assinou o parecer, afirmou que o acusado, por ter família influente, acredita estar acima da lei.

A manifestação foi encaminhada nesta terça-feira (23) à 1ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Cuiabá.

Carlinhos, como o réu é conhecido, está preso na Penitenciária Ahmenon Lemos Dantas, por matar a ex-companheira Thays Machado e o namorado dela, Willian César Moreno, em janeiro de 2023.

A defesa requereu a saída do réu da unidade prisional, com escolta, para que seja submetido a avaliações médicas externas e realização de duas cirurgias, sendo uma oftalmológica e outra vascular. Além disso, pleiteou para que ele se recupere dos procedimentos cirúrgicos em sua residência.

Ao longo do parecer, o promotor relembrou o caso e frisou que, ainda na fase de inquérito, o réu alegou que praticou os crimes “porque lhe faltou inteligência emocional”, por ter diabetes em estágio de neuropatia – o que, para Romaquelli, as alegações já eram utilizadas como artifícios em favor do réu, uma vez que a doença era preexistente aos fatos criminosos.

Reforçou que Carlinhos conseguiu direito à prisão domiciliar em novembro de 2023, cujo benefício foi revogado em 28 de março, após o réu fazer diversos passeios fora de casa, sem autorização da Justiça. A defesa ingressou com habeas corpus, que foi rejeitado pela Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) no último dia 17.

“Inicia a defesa, agora, cinco dias após a denegação do HC, um novo capítulo na tentativa de obter benefícios indevidos em favor do requerente. O requerente, por ser filho de família abastada, com elevada importância político-social, acredita que após matar a ex-companheira e uma terceira pessoa que estava em companhia dela, deve ficar solto como se nada tivesse acontecido; acredita estar acima da lei”, pontuou o promotor.

O membro do Ministério Público se posicionou para que os pedidos sejam negados e os procedimentos feitos dentro da unidade prisional.

“No tocante à pretendida “recuperação pós-operatória do Requerente em domicílio”, nos manifestamos veementemente pelo indeferimento, pois representa nada mais que uma tentativa escandalosa de manter o réu, autor de dois crimes contra a vida, em liberdade”, concluiu.

Entenda o caso

O crime ocorreu no dia 18 de janeiro de 2023, na frente de um prédio residencial, no bairro Alvorada, na Capital. O casal morreu na calçada do prédio após o acusado disparar tiros contra as vítimas.

Horas após o crime, o acusado, que é filho do ex-deputado federal Carlos Bezerra, foi preso em flagrante numa fazenda da família, no município de Campo Verde.

Conforme apurado durante a investigação policial, Carlinhos manteve um relacionamento amoroso por cerca de dois anos com Thays Machado, chegando a morar com a vítima. E, desde o início, ele se mostrou controlador e possessivo por vigiar cuidadosamente cada movimento dela, incluindo o telefone celular e as redes sociais.

Na denúncia, o Ministério Público apontou que, embora “estivesse inserida num relacionamento explicitamente abusivo, a vítima não encontrava forças para rompê-lo e buscar auxílio pelas vias policiais e judiciais disponíveis, pois entendia que, pelo fato de o denunciado ser filho de político de renome, tinha ‘costas quentes’, havendo risco, inclusive, da situação ser revertida contra ela”.

Em dezembro de 2022, Thays rompeu o relacionamento. Desconfiado de que ela estava com outro, ele “passou a vigiá-la mais intensamente ainda, monitorando-a a todo tempo através de ligações, aplicativos de rastreamento, já planejando a sua morte”.

Em janeiro de 2023, ela iniciou novo relacionamento com Willian Cesar Moreno. No dia 18 daquele mês, Thays foi com o carro da mãe buscar o namorado no aeroporto. Utilizando os mecanismos de rastreamento a que tinha acesso, Carlos teria a seguido até Várzea Grande, acompanhado o desembarque do namorado, e seguido o carro na volta quando foi percebido pelo casal. A mulher ligou para o Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), registrou o caso na Central de Flagrantes, mas Carlos conseguiu fugir.

Na mesma data, durante a tarde, Thays e Willian foram até o prédio da mãe dela para devolver o carro. Depois de deixar as chaves do veículo da mãe na portaria do prédio, Thays e Willian caminharam até a calçada na frente do edifício para chamar um Uber, quando foram mortos.

Para o MPE, o acusado agiu “de forma cruel e covarde, revelando extrema perversidade, ao agredir a vítima com diversos disparos de armas de fogo, descarregando uma pistola semiautomática em área urbana de intensa movimentação de pessoas, em plena luz do dia, no horário comercial de um dia útil”.

Carlinhos já foi pronunciado e será submetido a júri popular.

O caso tramita em sigilo.