O empresário Carlos Alberto Gomes Bezerra voltou a ser preso, nesta quarta-feira (28), após descumprir ordens de permanecer em casa para cumprir prisão domiciliar.
Ele é réu por matar a ex-companheira Thays Machado e o namorado dela, Willian César Moreno, a tiros em Cuiabá.
A decisão é da juíza Ana Graziela Vaz de Campos Alves Corrêa, da 1ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Cuiabá.
Recentemente, o Ministério Público do Estado (MPE) comunicou a Justiça denúncia de que o empresário teria ido a supermercados, acompanhado de seguranças armados, “representando uma afronta à justiça e à sociedade, e uma ameaça aos familiares e testemunhas do processo”. Por isso reforçou o pedido para a decretação da prisão, de forma urgente.
O fato citado pelo MPE foi confirmado pelo relatório do monitoramento eletrônico, que apontou diversos passeios feitos pelo réu, entre novembro de 2023 e fevereiro deste ano, sem autorização judicial. Ele ainda deixou descarregar a tornozeleira eletrônica, o que também é configurado violação. Esses descumprimentos reiterados foram fundamentais para a magistrada determinar o retorno dele ao presídio.
“Diante disso, infere-se dos autos que além de não ter comprovado a condição de extrema debilidade apta a fundamentar e justificar a manutenção da prisão domiciliar, o requerido, em desobediência à decisão judicial, infringiu a ordem, deslocou-se pela capital, sem a devida autorização, demonstrando o seu nítido espírito transgressor e o escárnio do requerido para com as ordens do Poder Judiciário e da sociedade”, observou a juíza.
Desta forma, ela destacou que “o comportamento do requerido, desrespeitando a cautelar de recolhimento domiciliar, externa seu completo desprezo pelas decisões deste Juízo, demonstrando que as medidas cautelares deferidas, são inócuas para conter seu espírito transgressor”.
“Dessa forma, é certo que a inobservância no cumprimento de medidas cautelares mais brandas enseja a ocorrência de um dos fundamentos para a prisão preventiva, qual seja, o periculum libertatis, que por sua vez, configura-se na sensação de impunidade que o denunciado ostentou possuir, praticando crimes bárbaros (um feminicídio e um homicídio qualificado), em plena tarde de um dia de semana, perto de uma avenida movimentada, na porta de prédio residencial no qual reside a mãe de uma das vítimas, desferindo diversos tiros que, inclusive, poderiam ter atingidos outras pessoas, além da demonstração de desprezo pela vida das vítimas e descumprindo as medidas cautelares impostas pelo juízo. Tais motivos servem como sustentáculo para que seja aplicada medida cautelar mais severa”, pontuou a juíza.
Para ela, o crime abalou a ordem pública e que o fato de o acusado estar circulando locais públicos traz a sensação de impunidade, “disseminando total descrédito as ordens emanadas pelo judiciário”.
A magistrada também rebateu a defesa e afirmou que a saúde dele não está extremamente debilitada para que seja agraciado com a prisão domiciliar.
Sendo assim, revogou a medida e decretou a prisão preventiva do réu.
Carlinhos ficará segregado na Penitenciária Central do Estado (PCE), na Capital, ou no Complexo Penitenciário Ahmenon Lemos Dantas, em Várzea Grande.
Ao Ponto na Curva, a defesa afirmou que irá recorrer.
Entenda o caso
O crime ocorreu no dia 18 de janeiro de 2023, na frente de um prédio residencial, no bairro Alvorada, na Capital. O casal morreu na calçada do prédio após o acusado disparar tiros contra as vítimas.
Horas após o crime, o acusado, que é filho do ex-deputado federal Carlos Bezerra, foi preso em flagrante numa fazenda da família, no município de Campo Verde.
Conforme apurado durante a investigação policial, Carlinhos, como é conhecido, manteve um relacionamento amoroso por cerca de dois anos com Thays Machado, chegando a morar com a vítima. E, desde o início, ele se mostrou controlador e possessivo por vigiar cuidadosamente cada movimento dela, incluindo o telefone celular e as redes sociais.
Na denúncia, o Ministério Público apontou que, embora “estivesse inserida num relacionamento explicitamente abusivo, a vítima não encontrava forças para rompê-lo e buscar auxílio pelas vias policiais e judiciais disponíveis, pois entendia que, pelo fato de o denunciado ser filho de político de renome, tinha ‘costas quentes’, havendo risco, inclusive, da situação ser revertida contra ela”.
Em dezembro de 2022, Thays rompeu o relacionamento. Desconfiado de que ela estava com outro, ele “passou a vigiá-la mais intensamente ainda, monitorando-a a todo tempo através de ligações, aplicativos de rastreamento, já planejando a sua morte”.
Em janeiro de 2023, ela iniciou novo relacionamento com Willian Cesar Moreno. No dia 18 daquele mês, Thays foi com o carro da mãe buscar o namorado no aeroporto. Utilizando os mecanismos de rastreamento a que tinha acesso, Carlos teria a seguido até Várzea Grande, acompanhado o desembarque do namorado, e seguido o carro na volta quando foi percebido pelo casal. A mulher ligou para o Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), registrou o caso na Central de Flagrantes, mas Carlos conseguiu fugir.
Na mesma data, durante a tarde, Thays e Willian foram até o prédio da mãe dela para devolver o carro. Depois de deixar as chaves do veículo da mãe na portaria do prédio, Thays e Willian caminharam até a calçada na frente do edifício para chamar um Uber, quando foram mortos.
Para o MPE, o acusado agiu “de forma cruel e covarde, revelando extrema perversidade, ao agredir a vítima com diversos disparos de armas de fogo, descarregando uma pistola semiautomática em área urbana de intensa movimentação de pessoas, em plena luz do dia, no horário comercial de um dia útil”.
Carlinhos já foi pronunciado e será submetido a júri popular.