1- Alta Generalizada no Campo e Impactos nos Bancos Públicos
A inadimplência da população rural no segundo trimestre de 2025 subiu para 8,1%, um aumento de 0,3 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior e de 1,1% em relação ao segundo trimestre de 2024, aponta a Serasa Experian (figura 1). A taxa média de crescimento do segundo trimestre de 2024 a 2025 foi de 2,96%.
Figura 1 – Inadimplência da população rural entre o segundo trimestre de 2024 a 2025
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados extraídos da Serasa Experian.
Para Marcelo Pimenta, Head de Agronegócio da Serasa Experian, os dados apontam uma piora lenta, mas contínua, no poder da população rural se manter adimplente. Segundo Pimenta, o agronegócio apresenta dificuldades no fluxo de caixa, além de endividamento acumulado desde 2021. O executivo aponta que elementos como custo de produção elevado, variação nos preços das commodities e crédito mais elevado determinam o cenário, destacando a relevância da gestão de risco sustentada por dados e inteligência analítica.
A inadimplência no agronegócio também tem apresentado crescimento nos bancos públicos federais, como Caixa, Banco do Brasil, Bando do Nordeste e Banco da Amazônia. Na Caixa, a inadimplência do setor cresceu para 7,02% no segundo trimestre de 2025, o que significou um aumento de 4,9 pontos percentuais em comparação ao trimestre anterior, o que fez o banco limitar o crédito ao setor. No Banco do Brasil, principal financiador desse setor, a inadimplência atingiu 3,49% no segundo trimestre de 2025, impactando fortemente o desempenho do banco com perdas no lucro líquido da ordem de 60%.
2- Norte Lidera a Inadimplência entre as Regiões
Dados apontam que a região norte tem o maior percentual médio de inadimplentes do meio rural (13,41%), seguido do Centro-Oeste (9,82%). A região sul é a que apresenta o menor percentual médio de inadimplentes do meio rural (5,25%). Entre as Unidades Federativa, o estado do Amapá apresenta a maior inadimplência (19,5%), seguido do Amazonas (13,9%) e Roraima (13%). Por outro lado, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul apresentam a menor inadimplência rural, da ordem de 5,7%, 5,6% e 4,9%, respectivamente — ver as figuras 2.a e 2.b.
Figura 2 – Inadimplência rural por Unidade Federativa desde 2021
(a)
(b)
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados extraídos da Serasa Experian.
2.1- Arrendatários e Grandes Produtores Concentram Maior Risco
Entre os setores do agronegócio, a inadimplência é de 7,6% nos pequenos produtores, 7,8% nos médios produtores, 9,2% nos grandes produtores e 10,5% nos arrendatários ou grupos familiares — ver figura 3.
Para Pimenta, os produtores que necessitam arrendar terras geralmente lidam com margens mais curtas pelo custo extra e, em relação aos grandes produtores, o incrível apetite ao risco pode promover desequilíbrio.
Figura 3 - Inadimplência intrasetorial no agronegócio
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados extraídos do Serasa Experian
2.2 Setor primário tem inadimplência baixa, mas crescente
Entre janeiro de 2018 e maio de 2025 a inadimplência do setor primário — base do agronegócio, que inclui produção agrícola e pecuária — apresentou uma taxa média de crescimento da ordem de 0,48% ao mês. A figura 4 mostra um salto expressivo entre outubro e novembro de 2024, em que a inadimplência salta de 0,76% para cerca de 1%. Apesar da tendência de crescimento observada no período, este percentual da ordem de 1% registrado nos meses recentes é muito pequeno se comparado aos demais setores da economia, como indústria (8%), comércio (33%), serviços (54,3%) e outros (3,2%).
A baixa inadimplência nas concessões diretas do setor primário pode estar relacionada a controles mais rígidos de crédito ou métodos de garantias com maior eficácia por parte dos ofertantes de insumos, máquinas e serviços.
Figura 4 – Inadimplência do setor primário (jan.2018 - mai.2025)
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados extraídos da Serasa Experian.
2.3- Efeitos externos e perspectivas para 2026
É esperado que o “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos ao Brasil afete o comportamento da inadimplência do setor rural para o terceiro trimestre deste ano, mas não significativamente, haja vista que as tarifas sobre exportações não abrangeram todos os produtos agrícolas e ocorreram durante um breve período, entre agosto e 20 de novembro.
Instituições como Serasa e Banco do Brasil enxergam piora, motivada por custos elevados, clima adverso e preços mais baixos das commodities. Contudo, a Caixa Econômica Federal está projetando um cenário positivo no início da base de 2026, vinculada à expectativa de recuperação do mercado agrícola e dos programas de renegociação. Em dezembro, uma nova edição do boletim Agro da Serasa Experian irá trazer mais detalhes sobre as tendências regionais e setoriais que moldarão o comportamento do crédito rural em 2026.
3. Medotologia
O cálculo empregado pela Serasa Experian leva em conta dívidas superiores a R$1.000, com mais de 6 meses ou 180 dias de atraso e de até 5 anos relacionadas a área do agronegócio, como agroindústrias, revendas, serviços e comércios ligados ao campo.
4. Reflexões finais
A inadimplência no setor rural continua avançando, impulsionada por custos de produção elevados e margens cada vez mais estreitas. O movimento afeta produtores de todos os portes e já começa a influenciar diretamente a política de crédito das instituições financeiras públicas. Embora haja expectativas de estabilização para 2026, o cenário ainda requer cautela, estratégias consistentes de gestão de risco e monitoramento constante dos indicadores.
Autoras:
Adriane A. Barbosa do Nascimento é advogada, Doutoranda em Direito Constitucional pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), Instituição pela qual também é Mestra em Economia, Políticas Públicas e Desenvolvimento. É especialista em Direito Tributário, Direito Societário e Direito do Trabalho, além de Economista registrada no CORECON-MT (n.º 00001/ME). Atua como Sócia-Administradora da Sociedade de Advocacia Simões Santos, Nascimento & Associados, em Cáceres/MT, e como Diretora Executiva da Consultoria Empresarial e Econômica Simões Santos, Nascimento & Almeida, em Cuiabá/MT. Entre 2022 e 2024, integrou a Comissão Especial de Direito Tributário do Conselho Federal da OAB como Consultora. Prêmio Brasil de Economia - 3º lugar na edição de 2024, na categoria Artigo Temático; e 1º lugar na edição de 2023, na categoria Artigo Técnico-Científico.
Cibeli Simões Santos, advogada, sócia fundadora do Escritório Simões Santos, Nascimento & Associados Sociedade de Advocacia; Mestra em Linguística pela Universidade do Estado de Mato Grosso; Doutora em Direito pela Universidade de Marília- SP; Presidente da 3ª Subseção de Cáceres- OABMT, triênio 2025/2027.
Referências
AGROPUJANTE. Inadimplência rural 2025 – Serasa Experian. 2025. Disponível em: https://agropujante.com.br/inadimplencia-rural-2025-serasa-experian/. Acesso em: 25 nov. 2025.
SERASA EXPERIAN. Dívidas médias de empresas cresceram 136% em um ano, revela Serasa Experian. 2025. Disponível em:https://www.serasaexperian.com.br/sala-de-imprensa/indicadores/dividas-medias-de empresas-cresceram-136-em-um-ano-revela-serasa-experian/. Acesso em: 25 nov. 2025.
SERASA EXPERIAN. Indicadores econômicos – Conteúdos e análises técnicas. 2025. Disponível em:https://www.serasaexperian.com.br/conteudos/indicadores-economicos/. Acesso em: 25 nov. 2025.
SERASA EXPERIAN. Inadimplência da população rural brasileira no segundo trimestre de 2025. São Paulo, 12 nov. 2025. 5 p. PDF. Acesso em: 25 nov. 2025.
PODER360. Inadimplência no agronegócio atinge 8,1% e segue crescendo. 2025. Disponível em:https://www.poder360.com.br/poder-economia/inadimplencia-no-agronegocio-atinge-81-e-segue-crescendo/. Acesso em: 25 nov. 2025.
GLOBO RURAL. Inadimplência do agro cresce no Banco do Brasil e frustra expectativas positivas para 2025. 2025. Disponível em: https://globorural.globo.com/credito-e-investimento/noticia/2025/11/inadimplencia-do-agro-cresce-no-banco-do-brasil-e-frustra-expectativas-positivas-para-2025.ghtml. Acesso em: 25 nov. 2025.
INFOMONEY. Inadimplência do agro deve começar a cair no 1º tri de 2026, diz Vieira da Caixa. 2025. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/business/inadimplencia-do-agro-deve-comecar-a-cair-no-1o-tri-de-2026-diz-vieira-da-caixa/.Acesso em: 25 nov. 2025.
SERASA EXPERIAN. Indicadores econômicos – Conteúdos e análises técnicas. 2025. Disponível em:https://www.serasaexperian.com.br/conteudos/indicadores-economicos/. Acesso em: 25 nov. 2025.
UOL ECONOMIA. Inadimplência pesa e lucro do BB tem queda de 60% no 2º trimestre. 2025. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2025/08/15/inadimplencia-pesa-e-lucro-do-bb-tem-queda-de-60-no-2 trimestre.htm. Acesso em: 27 nov. 2025.













