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Cuiabá, 29 de Abril de 2025

Opinião Segunda-feira, 28 de Abril de 2025, 07:22 - A | A

Segunda-feira, 28 de Abril de 2025, 07h:22 - A | A

ARTUR PORÉM

Audiência Pública no Senado: O agronegócio de Mato Grosso, sustentabilidade e os caminhos para o futuro

É preciso sair do senso comum, ouvir especialistas, produtores, cientistas, gestores públicos e construir uma visão mais justa

Muito se tem falado sobre o agronegócio brasileiro. De grandes cidades aos cantos mais remotos do país, quase todo mundo já ouviu alguma informação, viu um dado ou leu uma projeção sobre os supostos impactos negativos que o setor causa ao meio ambiente — às florestas, aos rios, ao solo. Mas é justamente aí que mora o risco: simplificar essa discussão complexa pode gerar consequências sérias.

A ideia de que o agronegócio é, por definição, um vilão ambiental, acaba gerando não só prejuízos econômicos internos, mas também afeta a imagem do Brasil lá fora. Essa percepção equivocada influencia acordos comerciais, políticas internacionais e a confiança de parceiros estratégicos, afetando anos de construção de relações baseadas em esforço diplomático e institucional.

O fato é que o Brasil tem uma vocação natural para a produção agropecuária. Clima favorável, solo fértil, abundância de água, relevo e luminosidade — todos esses fatores contribuem para o sucesso da nossa agricultura, que hoje abastece o mercado interno e exporta para dezenas de países ao redor do mundo.

Os números confirmam esse protagonismo: o agronegócio representa, sozinho, quase 24% do PIB brasileiro. Em meio a crises globais, é esse setor que tem ajudado a manter a economia em pé e gerar empregos em diversas regiões do país.

Mas, mais do que números, é importante falar sobre responsabilidade. O Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo. E o produtor rural brasileiro, muitas vezes alvo de críticas injustas, cumpre uma série de exigências legais para manter sua produção — desde a preservação de áreas nativas até o manejo sustentável do solo e da água.

Claro que há exceções. Como em qualquer setor, há quem descumpra regras, desmate ilegalmente ou explore o solo de forma predatória. Mas esses casos não representam a maioria. Generalizar é injusto e coloca em risco o trabalho sério de quem investe em tecnologia, inovação e sustentabilidade para produzir mais com menos impacto.

Esse debate ganhou destaque recentemente em uma audiência pública no Senado Federal, realizada em 24 de abril de 2025, que contou com a participação de parlamentares mato-grossenses e políticos de diversas regiões produtoras do Brasil, além de representantes do setor agropecuário e da indústria. Durante a audiência, foram discutidos temas sensíveis como a moratória da soja e a suspensão da Lei estadual 12.709/2024 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), aprovada pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), que impacta diretamente a atividade agrícola no estado. A reunião reforçou a importância de um diálogo construtivo entre todas as partes envolvidas, buscando soluções equilibradas que considerem tanto a preservação ambiental quanto o desenvolvimento da produção agrícola.

Como já dizia Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra; quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.” A frase resume bem o espírito que deve nortear o debate sobre o agronegócio e o meio ambiente. É preciso sair do senso comum, ouvir especialistas, produtores, cientistas, gestores públicos e construir uma visão mais justa, técnica e responsável sobre o papel do agronegócio no Brasil.

A sustentabilidade não pode ser discutida de forma isolada. Ela deve considerar o campo e a cidade, os impactos e os benefícios, os desafios e as soluções. E essa é uma tarefa coletiva. Cabe a todos nós — cidadãos, produtores, políticos, consumidores — repensar nossos hábitos e atitudes para garantir que o meio ambiente de hoje seja também o legado das próximas gerações.

Artur Malheiros Porém é advogado e consultor.