O mundo vive hoje o que talvez seja a pior ameaça à saúde da população na contemporaneidade. Estamos dentro de uma pandemia sem precedentes, exceto por infestações históricas como a da Gripe Espanhola, que no início do século 20 infectou um quarto da população mundial, ou a Peste Negra do século 14, que estima-se tenha causado centenas de milhões de mortes.
É certo que ela vai se alastrar e acometer praticamente todo o planeta, como aliás já está acontecendo – dados recentes mostram que já são 194 países e territórios afetados oficialmente. No entanto, temos que conter seu avanço rápido. Daí a importância da quarentena, isolamento ou contenção.
Não resta a menor dúvida, também, de que é preciso seguir as orientações tanto do Ministério da Saúde como da Organização Mundial da Saúde, para conter a disseminação do coronavírus.
Nada obstante, verifica-se tanto no meio científico como político muitas discussões, que refletem a forte polarização vivida atualmente no país, e penso que é imprescindível aplicar doses maiores de equilíbrio e razoabilidade. Não cabem exageros de qualquer lado que seja e precisamos pesar todos os aspectos envolvidos na questão de maneira racional.
Há um receio muito grande de que a parada total do país acabe provocando um caos social, em virtude da crise econômica, que demorará muito para ser revertido. Precisamos encontrar um ponto de equilíbrio entre a questão sanitária e a econômica, o que na minha opinião só se conseguirá através da observação, da análise diária da evolução dos casos e do trabalho constante de proteção daquelas pessoas que são mais suscetíveis a ser infectadas, os chamados “grupos de risco”.
Alguns analistas entendem que podem ser estabelecidas estratégias que tratem de maneira cirúrgica o problema da disseminação. Que regularmente as autoridades estaduais, municipais e federais sentem para fazer avaliações e, aos poucos, liberem e autorizem as pessoas a voltarem às suas atividades mediante adaptações e medidas sanitárias adequadas.
Há especialistas também que apontam como saídas do ponto de vista sanitário, para diminuir a ocorrência de complicações nas pessoas infectadas, um trabalho no sentido de melhorar a imunidade daqueles considerados grupos de risco. Não seria interessante, por exemplo, nesse caso, dar condições para que as pessoas com mais de 60 anos tenham maior imunidade e se fortaleçam para enfrentar a doença, fornecendo-lhes suplementos e proporcionando condições melhores de nutrição?
Se estabelecermos critérios rígidos de higienização e forem respeitadas orientações em relação ao número de pessoas e distâncias mínimas entre elas, acredito ser plenamente possível manter os estabelecimentos industriais e comerciais funcionando. É racionalizar para que não se paralise totalmente e para que não haja desabastecimento de mantimento e as pessoas consigam trabalhar, estudar, enfim, viver dignamente.
Com racionalidade, equilíbrio, aplicação e união de todos, acredito que conseguiremos vencer mais esta batalha. Radicalismos e imposições precipitadas neste momento só servem para desorganizar e desorientar as instituições e a população. Só se vence uma guerra traçando muito bem as estratégias.
Tiago Abreu é juiz de Direito e presidente da Associação Mato-grossense de Magistrados (AMAM)