Há muito tempo, Erasmo de Roterdã disse que se desse conta da responsabilidade, ninguém em sã consciência iria ter coragem de ser governante.
Ter que fazer leis e ser o primeiro a respeitá-las.
Ter consigo a ética sempre à frente do nariz para que se lembre sempre, com o intuito de nunca dela se distanciar, pois deve estar num pedestal servindo de exemplo aos demais.
Estou dizendo o que o corajoso religioso disse na Idade Média, com as adaptações necessárias.
Saber que a criancinha ou o idoso, este que tanto contribuiu para o progresso do Estado, está morrendo numa maca do pronto socorro por falta de vaga na UTI, e você governante deveria ter uma solução para que isso não ocorresse.
Ter consciência dos invencíveis problemas de segurança, educação e que sofrerá pressões de tudo quanto é lado para resolver todas as demandas.
Terá vorazes fiscais a esbravejar “eu te disse, eu te disse, deveria ter feito daquela maneira, não fez….”
Administrar os próprios bens pode gerar desconfiança dos familiares. Imagine gerir o bem alheio, fiscalizado por todos.
Diante de tanta responsabilidade, se tivesse consciência delas, não fosse a contribuição da loucura, não teria um sono tranquilo, levantaria várias vezes na noite a pensar ter achado a iluminação para solucionar um dos milhares de problemas, não podendo perder a oportunidade daquele momento de escrever a grande ideia, sob pena de correr o risco de na noite profunda esquecer os detalhes que poderiam colocar tudo a perder. Ter a visão de que deve exigir muito do povo, para cobrir o rombo que muitas almas errantes deixaram no patrimônio público em tempos passados.
Ter a consciência de que para melhorar as condições da comunidade, deve ser duro, ser odiado, não dar o que as corporações pedem, com a obrigação de a elas dar explicações e, sendo entendido ou não, ter o pulso firme de um pai com olhar zangado, fazendo-se respeitar, para que o rebento entenda que não há dinheiro, não há sobras para comprar os docinhos da sobremesa, senão o necessário para a sobrevivência da família.
Só louco para ansiar ser governante. Por isso, a loucura exige respeito e admiração.
Concito-vos, pois, a venerá-la, pois sem ela não haveria governantes, sem nunca olvidar que, sem ser insanos, muitos já estiveram à frente do governo e praticaram atos infames que esses loucos dos quais falo jamais fariam, pois, embora inconscientes do pesado fardo, jamais caminhariam por lugares que pudessem envergonhar suas mães.
Arnaldo Justino da Silva é promotor de Justiça em Mato Grosso.